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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ossos do ofício... Restos de um não ofício...

O respeito que se deve a um profissional de qualquer área vai muito além da nomenclatura classificativa que envolve cada profissão e, em se tratando daqueles que compartilham conhecimentos como a de um professor, a quem chamamos adjetivamente também de mestre, vai muito além das próprias matérias e temas abordados em aula. Na verdade, como em todo ofício, há bons, medianos e ruins, porém, o diferencial dos bons e dos que estão de fato preparados está na capacidade não só de acumular e formatar as informações, mas também de saber dosá-las e distribuí-las precisamente aos seus alunos.
Dentre dos perfis podemos citar os ruins – na verdade só os cito por uma questão didática, até porque estes merecerem o esquecimento, porém, infelizmente, sempre os teremos. Guardadas as devidas proporções, como disse Jesus certa vez "sempre teremos eles conosco...", fazendo menção de quando o indagaram por andar entre os pobres e miseráveis. Falo nas devidas proporções, porque a pobreza se manifesta de várias formas e, pior do que a pobreza material está a de espírito, que permeia a muitos, inclusive alguns entre os endinheirados, não todos (graças a Deus!). Bom, a exemplo dos miseráveis "educadores musicais", estão aqueles que se apropriam de uma gama de instrumentos, confundindo versatilidade com importunismo irresponsável, dão aulas de três, quatro, cinco instrumentos de maneira prepotente – vendem este peixe duvidoso sem o mínimo pudor.
São enganadores e como só existe o enganador porque do outro lado está o receptor da mentira, estes sempre existirão e, como há público para todas as formas de produtos e serviços, nada se pode fazer, apenas respeitar o direito de ir e vir de ambos.
É impossível transmitir conhecimentos devidos e honestamente dentro deste perfil dos ruins, pois, não tiveram seus bons mestres e não pagaram o preço para isto. Sendo assim, suas vítimas provarão disto, por mais que não percebam e estejam como as rãs cozidas, que "morrerão" sem perceberem. Não há como mudar, seus consumidores terão resultados pífios e se manterão na ignorância. É fato que, bem ou mal, sempre se aprende alguma coisa, mesmo que o que foi aprendido não tenha embasamento devido, não há o que fazer e é uma questão de escolha e análise pessoal.
Os ruins além de enganar seus receptores, enganam a si próprios, são "zumbis da cognição" e nunca um dia serão chamados de mestres ou professores (talvez mal se importem com isto, eles querem apenas migalhas), pois, além de não possuírem aptidão para tal, nunca detiveram conhecimentos e, o pouco das bagunças que lhes pairam sobre suas cabeças frágeis, são transformados em fiascos que serão vomitados de qualquer jeito nas bocas e ouvidos de suas coniventes e ignorantes vítimas.
Para completar este raciocínio, não posso me esquecer de um fator extremamente importante e ao mesmo tempo perturbador: entre esta linha que une os ruins e seus "aprendizes" está a ausência total de noção no que se refere ao básico.
Infelizmente, em nosso país, a referência sobre o que é básico é a pior possível e em todas as esferas, inclusive no ensino musical. Muitas pessoas que procuram aulas de algum instrumento, e já tocam pouco sobre alguma coisa, costumam dizer que querem aulas de aperfeiçoamento alegando já saberem o "básico", sem nunca terem a mínima relação com aquilo a que chamam de básico. Costumo dizer para estes, com muita sinceridade e sem a menor presença de arrogância, que eles na verdade nunca souberam e nem sabem o que intitulam básico. Isto é um fato e, lamentavelmente, na cabeça "nossa", dos brasileiros e brasileiras em sua gigantesca maioria , está a seguinte realidade secular nas seguintes perguntas que costumo fazer para alguns: O que você acha da nossa cesta básica? O que você acha do nosso ensino básico nas escolas? O que você acha do nosso sistema básico de saúde? O que você acha do nosso sistema básico de transportes? Adivinhe a resposta.
O mediano é mediano...
Quando gostamos de algo, dentro de uma perspectiva ou um formato que nos foi proposto como o devido, e nossos sentidos não identificam isto ao prová-los, nos vem uma sensação de frustração tão grande. É como comer um prato que você conhece e adora e ao prová-lo perceber que há algo errado, como se no que se espera sal não o tivesse e no que devia ser doce idem. Agora imaginem se estas discrepâncias forem absurdas, sal no doce, doce no sal, entende?
Até existem boas informações que são compartilhadas, percebe-se sim a presença de algum conteúdo, porém, a disposição destes e a forma como são passados não tem coerência, não desce, não convence...
É como passar pedal duplo sem antes ter bons exercícios para a utilização do simples, como passar buzz roll antes dos princípios básicos de rudimentos, como passar rudimentos e não se ter preparado as mãos para o recebimento de tal técnica.
O ruim a gente despreza e acaba tendo dó como alguém perdido em uma floresta em busca de pregos, martelos, sabe lá o que. Mas o mediano sai da esfera da ignorância bruta e entra no meio termo, no termo de quem começou a saber e não continuou; parece contraditório, e acaba sendo, pois é ignorante, talvez um outro tipo de ignorância, talvez menos animal e tão irresponsável como a dos ruins.
Cansei de pegar cadernos nestes 16 anos de aula com matérias perdidas, sem ligação, sem o mínimo de raciocínio que se permitisse um bom desenvolvimento de um aluno, isto em todas as esferas e perfis de alunos, pois, independente do nível de aluno e das distinções entre eles, é possível trabalhar conteúdos diretos, específicos e funcionais. Não adianta fazer um feijão tropeiro para um bebê (rsrs), não adianta querer impressionar com quantidade de matérias quase que sorteadas na esperança de que o aluno irá desenvolver em função da quantidade de informações. Como diria o Padre Quevedo sobre aberrações forjadas: "Isto não ecxiste!!!".
Abraços e boa sorte!
Fernamdo S Fálvo

(Fernando, um dos proprietários da Academia Musical Seu Batuta é colaborador do blog OMZL escrevendo sobre musicalidade, confira mais sobre "Seu Batuta" acessando o site www.seubatuta.com.br e também o site
www.omelhordazonaleste.com.br